Existe uma verdade universal sobre a minha família: situações bizarras sempre acontecem. Viagens e rodoviárias são um dos locais mais propícios para essas situações se desenvolverem e tomarem proporções gigantescamente toscas.
Ontem foi um desses dias, assim, desse jeito. 23:30 teoricamente eu embarcaria para Porto Alegre. Cheguei na rodô de Balneário meia hora antes para retirar a passagem que já tinha comprado previamente. O carinha do guichê olha pra mim com a cara mais tranquila do universo e diz que o onibus atrasou em São Paulo e que vai chegar "lá pela 1:30 da manhã ou 2 horas". Ahã. Cool. Legal. Massa.
Nessas alturas, eu já dopada por 60 gotas de Dramin B6, sentei com minha mãe e 3 malas pesadas para esperar. Acho que 20 minutos depois eu já estava rindo e falando fofo de tanto sono. Minha mãe começou a relembrar casos bizarros de rodoviárias e eu chorei de rir ouvindo a história dela em um táxi perseguindo o onibus na ponte do Guaíba no meio de uma chuva torrencial enquanto ouviam-se gritos de "moço, moço!". Adoro histórias quando as pessoas gritam "moço!".
Depois de idas e vindas pelos corredores da rodoviária, tentando esticar as pernas e dar uma espairecida, ganhamos o "kit lanchinho" do funcionário da Itapemirim que etiqueta nossas malas porque não tem nada mais de bom pra fazer.
1 hora da manhã. O onibus chega. Quando eu achei que tudo ia ser lindo, apesar dos pesares, o motorista abre os bagageiros e... tá tudo lotado. Não entrava nem uma vírgula mais.
Confusão geral na rodoviária. Galera que vai embarcar já quer tacar fogo no ônibus. O pobre do motorista resolve por as malas nos bancos vazios. O fundo do onibus fica de mala até o teto. Vou me deitar porque estou podre de cansada.
Minha mãe deita, abre o saquinho do cobertor e cinco minutos depois ela dorme, pobre bicho. Eu, sem querer me dar por vencida, resolvo ouvir música. Descubro que um dos meus fones não funciona. Depois de uma crise de raiva resolvo dormir.
A viagem é tranquila e eu acordo cada vez que um braço fica dormente pra trocar de lado. Minha mãe, toda uma princesa, se encosta em mim e empresta o braço pra eu fazer de travesseiro. Uma santa.
5:59 acordo com os gritos do motorista pra avisar que haverá uma parada de 20 minutos pra lanche. Capengando, saímos do onibus. Levo um susto ao me olhar num espelho gigante que tem na entrada do banheiro. Cabelo revirado e cara amassada. Concluo que a pessoa que teve a idéia de por um espelho daquele tamanho odeia mulheres.
A viagem continua. Acordo em horário indeterminado e vejo o sol nascer no campo. Coisa mais linda a planície recoberta pela geada. Já percebo na hora que cheguei ao meu amado Rio Grande.
Volto a dormir. Acordo as 7:40 pelos gritos do motorista de que chegamos em Osório. Do outro lado da rua tem uma igrejinha amarela, a coisa mais fofa. Começo a conversar com a minha mãe e ficamos papeando até não poder mais.
9:30 chegamos em Porto. Na hora de descer do onibus, ninguem se presta a ajudar a descer as malas. Minha mãe tenta pedir pro motorista. Ele esta descarregando "as compras que as pessoas fizeram em São Paulo que estavam entupindo o bagageiro e não pode fazer nada". Eu fico puta e penso em quebrar o vidro do onibus com a mala. Descemos sem ajuda.
Na saída um outro funcionário da Itapemirim surge pra retirar as etiquetas que no fim não serviram pra nada. Minha mãe reclama pro funcionario, que diz para irmos até o guichê da empresa.
No guichê eu peço o número para reclamação. Uma freira e uma outra passageira que estavam no mesmo onibus fazem cara feia. Eu começo a reclamar do quão ridícula aquela empresa é. A funcionária me manda ligar e reclamar mesmo.
De raiva e cansaço eu me agarro no primeiro orelhão e ligo. Minha mãe, exausta, senta numa das malas com a carinha mais triste do mundo. Eu xingo a telefonista e depois me arrependo. Fico calma e explico a situação. Exijo uma retratação da empresa. Ela alega que em 5 dias me dará uma resposta.
Vamos em busca de um taxi. O motorista é o típico gaúcho querido. Ficamos filosofando sobre o caos da vida moderna e da falta que faz desastres naturais e guerras nesse país. Ele nos ajuda com as malas. Uma vidice. <3
Chegamos e minha tia nos espera com um café. Eu começo a ter cólicas homéricas. Minha mãe sai em busca de uma farmácia. Tomo banho e vou me deitar. Ela chega com o são Pontin. Quero tomar dois de uma vez. "Não, não pode!" Vou pra internet em busca de uma bula do remédio. Pode de 8 em 8 horas. Tomo um. Durmo instaneamente. Acordo as 3 da tarde e me empanturro de sanduíches, ou como diria a Naila, "mistinhos".
E resolvo que contar isso num blog que está semi-às-moscas pode ser uma maneira interessante de desopilar.
E acho que agora vou jantar na casa da amiga de alguém.